Itapetininga: Curso desperta interesse em permanecer no campo
quinta-feira, 17 de novembro de 2011Orgulho. Esse é o sentimento que pode ser visto nos olhos de Maria Angélica, Cristian e Gabriel, todos estudantes do ensino médio, da cidade de guia da cidade Itapetininga, quando mostram a horta que eles mesmo montaram, os ovos das codornas das quais cuidaram e relatam as experiências vividas nos últimos sete meses. Eles acabam de descobrir o quanto sua terra natal pode ser sinônimo de uma carreira promissora. São três, dos 60 formandos deste ano, do Programa Jovem Aprendiz Rural, cujo objetivo de incentivar o desenvolvimento profissional sem que estes jovens precisem sair de sua região – por vezes, nem do seu bairro – aproveitando o que eles têm de melhor.
“Itapetininga tem o maior Produto Interno Bruto (PIB) agrícola do estado de São Paulo. Essa é uma oportunidade que os prepara para o mercado do agronegócio, que tem um potencial enorme”, comentou Patrícia Helena Veríssimo Braga, superintendente geral da Associação Anália Franco, localizada no bairro Chapada Grande, uma das entidades parceiras na realização do projeto.
O Programa Jovem Aprendiz Rural foi criado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e acontece em mais de 70 cidades do estado de São Paulo. Em Itapetininga, seu braço é o Sindicato Rural, que para realizar as aulas – cuja participação é totalmente gratuita, num pacote que inclui também refeições e transporte – conta com a parceria de duas instituições: a Associação Anália Franco e o Centro Social do Adolescente, que oferecem toda a infraestrutura necessária para receber, cada qual, uma turma de 35 alunos. No contraturno das aulas que frequentam no ensino médio, os estudantes de 15 a 18 anos participam de um curso de três horas diárias, por 150 dias, no qual aprendem tudo o que precisam para ingressar no mercado de trabalho do agronegócio. Os ensinamentos vão desde os conceitos básicos de plantio e cuidados com animais até ensinamentos da área de administração, marketing e logística. A experiência e o conhecimento adquirido por meio dela têm feito com que a grande maioria dos estudantes aprendizes decidam por deixar de lado o sonho da carreira impossível, longe de casa, para investir num futuro – extremamente promissor – na zona rural.
Como numa empresa
Na prática, como aprendizes, os jovens colocam a mão na massa, montam hortas, aprendem a cuidar de animais, conhecem conceitos de marketing e administração e experimentam o trabalho em equipe. E a possibilidade de frequentar uma escola que os prepare “para a vida”, como eles dizem, encanta e enche de brilho os olhos. “Aqui, há alguns meses, estava cheio de verduras”, apontou o estudante Gabriel Rocha Cerqueira Cordeiro, de 14 anos, um dos que mudou seu conceito acerca do tema agronegócio assim que começou a frequentar as aulas. “Gosto dessa área, mas sou da cidade. Mas sei que o campo tem muitas possibilidades. Eu tenho orgulho de ter nascido aqui e acho que as oportunidades em nossa cidade natal somos nós mesmo que temos que fazer.” A visão de que cuidar das coisas do campo era algo simples foi embora depois de meses de aulas. “Fiquei impressionado com a quantidade de coisas que cercam o agronegócio.” Segundo a instrutora pedagógica Nádia Cristiane Rodrigues de Oliveira, de 26 anos – há quatro no projeto e que trabalhou, durante os últimos oito meses, com os 29 formandos da turma do bairro Chapada Grande – a primeira reação dos jovens, quando ficam sabendo do curso de aprendiz rural, é “torcer o nariz”. “Quando a gente vai fazer a divulgação eles tiram sarro, acham que trabalhar no campo é carpir. Existe um preconceito, que é quebrado durante o curso. Queremos preparar esses jovens para o mercado de trabalho e, para os que já vivem na zona rural, fazer com que aprendam coisas que possam ensinar a seus pais.” Ela se lembra, com orgulho, de alunos que, ainda durante o treinamento, começaram como aprendizes em empresas da região e hoje, já efetivados, são os responsáveis por contratar os jovens que estão começando. “A gente dá a base e daí cada um sai em busca da melhor forma de aproveitar.”
Já Maria Angélica da Costa Arruda, que tem 16 anos, contou que nunca teve dúvidas de que queria uma vida longe das grandes cidades. “Meus avós sempre moraram em sítio. Quero ser engenheira agrônoma”, comentou a jovem, que já conseguiu um emprego na área de administração de transportes para o agronegócio. Seu colega Cristian Mike Correa Leal, de 16 anos, também diz que seu futuro é no campo. “Nasci no sítio e só me mudei para a cidade aos 10 anos.” Ele viu no programa Jovem Aprendiz a oportunidade de se preparar para dar continuidade aos negócios do pai. “Ele plantava feijão e soja e é isso que eu quero fazer, para exportar.” Sobre os aprendizados dos quais não irá se esquecer, ele aponta um dos que, com certeza, ajudará a colocá-lo à frente dos demais assim que chegar a uma universidade, com curso voltado ao agronegócio. “Aprendemos as medidas ideais para fazer os canteiros, na prática.”
Os conhecimentos que envolvem aulas sobre marketing, plantio, ações comerciais e até ética e cidadania fazem com que os alunos saiam do treinamento, mesmo com a pouca idade, prontos para encarar o mercado de trabalho. Para um adolescente, por vezes com muitas dúvidas, incertezas e indecisão, uma oportunidade transforma-se no pontapé inicial. E, em 2011, o resultado do projeto foi promissor: dos 70 alunos ingressantes, 43 terminam o treinamento, neste mês de novembro, contratados por empresas de agronegócios da região.
Fonte: Portal Cruzeiro do Sul
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